Trabalho e relacionamentos
No trabalho, diz nunca ter sentido nenhum preconceito. “Já percebi alguns olhares de estranhamento, mas nunca perdi nenhuma oportunidade por conta da dermatite atópica”, explica. Já os relacionamentos deram uma estacionada durante um período da sua vida, tanto por conta da dermatite atópica, porque ela cansou de ter que ficar explicando para todo mundo o que tinha, quanto por conta da saúde mental, o transtorno de ansiedade e, posteriormente, recebeu também o diagnóstico de transtorno borderline. Se na dermatite a pele é muito sensível, e qualquer ação externa pode desencadear uma crise, o borderline é como se a pessoa fosse desprovida de uma pele emocional, o que deixa vulnerável o seu psicológico e emocional a fatores externos; e a pessoa fica entre altos e baixos, com as emoções muito mexidas, com problemas de autoimagem e de autoaceitação.
“Fiquei quase um ano sem querer ver ninguém, sem sair, ter que explicar tudo me deixava chateada, com preguiça, até que aos poucos me soltei”. O momento de virada ela considera ter sido a sua primeira postagem nas suas mídias sociais sobre a dermatite atópica. “Falei, essa sou eu, eu tenho isso, vivo com essas manchas”.
E Simone conta como o retorno tem sido positivo, quantas mensagens de pessoas que agradecem o fato dela publicitária se mostrar, se expor, e falar sobre a questão, de pessoas que começaram a se aceitar melhor desde então.
A publicitária é não-monogâmica e chama seus relacionamentos de afetos, dos quais conta receber compreensão e carinho, e uma busca por entender seus gatilhos e suas questões. “Existe todo um cuidado dos meus afetos comigo, conhecer e ter essas pessoas por perto é muito bom”. Além disso, Simone ressalta o quanto é importante ter o apoio e o carinho da família e dos amigos.
Informação séria
Simone alerta sobre a importância de buscar apoio nas redes, mas que tratamento é com médico, com profissional de saúde, e ela procura ter muito cuidado para não postar nada sobre medicamento, tratamento. “É importante a gente se cercar de profissionais com os quais a gente se sinta bem, tranquilo com o diagnóstico. Ele está ali para uma relação de confiança”.
Um cuidado que Simone tem ao falar sobre a dermatite atópica é buscar artigos em bases de dados científicas, hábito que adquiriu na Faculdade de Biologia, que cursou durante um período, antes da Publicidade.
A busca pelo autoconhecimento
Sobre o aprendizado com a sua condição de saúde, Simone diz estar aprendendo a se olhar com mais cuidado, a não deixar de fazer nada por conta da doença, de se entender e se acolher. “Estou aprendendo a me olhar com mais carinho, reaprendendo o que é autocuidado”.
A escrita é a forma que Simone encontrou de aliviar essas dores, e de se entender melhor, de se dar conta da importância desse autocuidado. Ela tem uma rotina com a pele, hidratando muito, mas também com o seu lado emocional e psicológico. “Eu tento muito escrever me analisando, me fazendo lembrar o quanto eu me saboto. Não quero mostrar uma vida perfeita, porque a vida não é assim. Vejo que estou fazendo bem para mim, e para outras pessoas, e isso é muito gratificante. É preciso ter essa disponibilidade para o outro”.
Depoimento cedido pela paciente Simone Bispo e transcrito pela jornalista Luciana Oncken.
Fotos cedidas pela paciente Simone Bispo.