Quando a gente muda, o mundo muda
A dermatite moldou, de certa forma, a personalidade de Julia: doce, tímida, caseira, a menina conta que sempre manteve poucos e bons amigos ao seu lado. “Sempre tive uma certa dificuldade em relacionamentos. Meu primeiro namorado foi aos 17 anos e, mesmo no começo, eu saía toda coberta, escondendo meu corpo”.
Aos poucos, Julia foi se aceitando e fortalecendo sua autoestima. Hoje, mora com o namorado, e afirma sua expressão por meio da arte, seja por meio do design, da costura ou da pintura, atividades que gosta de fazer, principalmente, durante as crises. “Além de manter minha mente ocupada, me distraindo, também mantém minhas mãos ocupadas. Assim eu não consigo me coçar”, brinca.
Com o tempo, as crises diminuíram e hoje estão bem mais controladas ‒ o que não muda as visitas recorrentes aos médicos que a acompanham. O hidratante e as pomadas também são grandes aliados do dia-a-dia. Quando a coceira vem com mais força, Julia toma os medicamentos recomendados. “Hoje em dia, eu entendo muito melhor como a DA funciona em mim”.
As alergias alimentares, recorrentes durante seus primeiros anos de vida, já não a afetam, mas o emocional ainda é responsável por gerar algumas crises. “Se eu tenho uma apresentação ou entrega importante no trabalho, já começo a me coçar. Consigo até mesmo prever esse tipo de crise”. Segundo ela, a dermatite a ajudou a se autoconhecer. “Hoje eu entendo mais sobre mim, sobre minha rotina, sobre meu corpo e tento não me deixar afetar tanto com o que os outros podem pensar. A DA me ajudou a crescer entender mais sobre mim mesma”, afirma.
Além das atividades manuais, a terapia foi, e ainda é, uma válvula importante na rotina da jovem, não apenas para ajudar no controle da dermatite atópica, mas na vida como um todo.
Neste período de pandemia, a rotina não mudou muito. “Como eu sempre fui bastante caseira, não sinto que mudou muito. Mas eu tento evitar ficar pensando muito para não me preocupar e deixar afetar o emocional”, pondera.
Para além da dermatite, Julia sonha em ajudar cada vez mais pessoas por meio da sua profissão, usando o design como a maneira de ajudar as pessoas, já que sua área é a experiência do usuário (UX). A garota sonha em conhecer o mundo, explorar outras culturas, conhecer novas pessoas. “Quero também continuar aprendendo coisas novas. Línguas por exemplo”, conta a designer que já é fluente em seis línguas ‒ português, inglês, espanhol, alemão, um pouco de libras e alto-valiriano, a língua fictícia usada em Game of Thrones. E pretende ainda estudar japonês, italiano, o que vier.
Julia também fala a língua da experiência, apesar da pouca idade, e se pudesse dar um conselho a quem acaba de ser diagnosticado, seria: “é difícil no começo, mas as coisas melhoram, as crises passam e você consegue viver a vida”, diz, na língua da tranquilidade.
Depoimento cedido pelo paciente Julia Akemi e transcrito pela jornalista Luciana Oncken e Maria Luiza Machado Miserochi
Fotos cedidas pelo paciente Julia Akemi
MAT-BR-2001781 - Setembro 2020