O encontro com a arte
Por volta dos 16 anos começou a fazer aula de canto e aos 18 anos entrou no teatro, pensando mais como uma forma terapêutica, em cursos livres, para depressão e timidez. Acabou se encontrando na arte e cursou teatro na Universidade Federal de Minas Gerais. “Eu me sentia mais aceita e mais acolhida no grupo”, destaca.
Juliana sempre procurou se esconder atrás dos moletons, mesmo em dias quentes. “Demorei um pouco a começar a usar shorts e vestido, achei que as pessoas iam me repelir ou me recriminar, mas foi o contrário, recebi incentivo e apoio. Foi libertador!”
Ela sempre evitou sair de casa, e admite que até hoje faz isso em tempos de crise. Deixa de sair, com medo do julgamento alheio. Cansou de se sentir só e incompreendida, quando conhece uma pessoa, Juliana evita falar, a princípio, da dermatite atópica. “Acabo me fechando muito. É difícil eu me relacionar”. Mais uma vez o teatro entra como forma de ajudá-la a se expressar, usar o corpo, dar voz à sua dor e sentido à sua história.
“As pessoas que não têm dermatite atópica não sabem o que significa ter uma crise. Gostaria que as pessoas perguntassem, que tivessem mais empatia, que buscassem compreender o que sentimos e como nos sentimos”, desabafa. Pensando nisso, criou um grupo no Facebook, em 2011, para se sentir mais próxima de quem tem a condição. Hoje, o grupo tem 19 mil pessoas. “É uma troca muito rica, e o grupo foi criando vida própria, caminha sozinho”.
Incentivos e sonhos
Recentemente, criou um Instagram do grupo, onde concentra mais dicas e frases de apoio para seguir da melhor forma com a dermatite atópica. Ela acredita que isso pode transformar a vida das pessoas em relação à aceitação. Juliana vê o seu controle sobre a doença como um processo lento às vezes. É muito fiel aos seus sentimentos, tenta não os esconder, mostra as suas vulnerabilidades. A atriz acha esse processo importante, de reconhecer e aceitar os seus sentimentos.
Ao mesmo tempo que aposta nas mídias sociais como forma de empoderamento, também toma muito cuidado ao se colocar, porque tem coisas que funcionam para uma pessoa e não funcionam para outras. “Não posso substituir o médico, o profissional de saúde. É importante que as pessoas saibam que precisam ter um acompanhamento médico, ter um profissional de confiança para ver a evolução da dermatite e cuidar da sua saúde da melhor forma”, lembra. Ela acredita que fortalecer o lado psicológico é fundamental para atravessar os desafios que a dermatite atópica impõe. “Nesse ponto a terapia pode ajudar muito”, aconselha por experiência própria.
Juliana aposta na sua profissão, tem planos de investir na área acadêmica, no estudo da arte como forma de prover sua vida. E, por meio da sua profissão, ainda dar muito orgulho para a sua família. O seu maior sonho é se aceitar mais, que a questão do corpo não a prive mais de viver coisas que ela deseja viver. Que as lágrimas possam se jogar no abismo das pálpebras e amansar a pele.
Depoimento cedido pela paciente Juliana Tostes e transcrito pela jornalista Luciana Oncken.
Fotos cedidas pela paciente Juliana Tostes.