Primeiros sinais de dermatite atópica
A dermatite atópica de Helton não surgiu na infância, como é mais comum. Os primeiros sintomas vieram quando ele já tinha 23 anos. A dermatite atópica acomete de 2% a 9% dos adultos.1 No caso de Helton, o início dos sintomas não dava indício do que viria pela frente. Começou com uma leve coceira nas mãos, entre os dedos. Pensando que era apenas uma irritação qualquer, passou a usar algumas pomadas para minimizar a coceira, e assim foi levando, até que a coceira virou uma lesão. Então, passou para a outra mão e começou a evoluir para toda a mão e braços. Inicialmente, foi diagnosticado com alergia a corantes. E saiu do consultório médico com uma lista de alimentos que deveria evitar. O que mais o deixou inconformado foi ter que ficar sem a amada cervejinha. “Fiquei quatro anos sem tomar cerveja. Aí, eu pensava, uma Copa do Mundo (de futebol) sem tomar cerveja não dá. Não pode ser um negócio desse”, brinca, com uma simplicidade cativante.
E justamente por ter de se privar se uma série de alimentos, Helton começou a se alimentar de coisas que, depois, ficou sabendo, desencadeavam reação. Embora ele seguisse a dieta recomendada, começou a perceber uma piora, até encontrar seu médico, que o atende até hoje. Uma relação de confiança e amizade.
O diagnóstico da dermatite atópica
A primeira lembrança da consulta foi que, sem precisar ao menos levantar-se da cadeira, com base em um questionário, o diagnóstico já estava dado.
“Não é possível, esse cara só pode estar de brincadeira. Passei por tanto médico e o cara já dá o diagnóstico assim”, diverte-se.
A confirmação veio pelo exame físico. O médico perguntou qual era a região mais afetada. Helton respondeu que eram as costas. O médico pediu para ele levantar a camiseta. Quando viu as costas de Helton, soltou um belo palavrão e perguntou: “Como você consegue viver com isso?”
“Pensei que estava desenganado” – se diverte – “se ele que é médico ficou daquele jeito...”.
Antes de chegar ao médico atual, Helton passou por diversos profissionais e orientações para tratamentos nada ortodoxos. E vai emendando uma história na outra com desenvoltura. Dá para imaginar Helton em um stand up, arrancando risadas da plateia, em lembranças que vão do Helton antes da dermatite atópica ao Helton de depois.
“Eu era o capeta, aprontei muito na infância. Coloquei fogo na escola, uma vez, mas ninguém conseguia me dar bronca, porque olha como eu era lindo, parecia um anjinho, quem conseguiria dar bronca em um menino desses!”, conta e mostra algumas fotos suas aos cinco, seis anos. Loirinho, de cabelos lisos, bem aparados.
Escudo para a dor
As brincadeiras são como um escudo para o lado emocional e psicológico que o afetam. Hoje, Helton acha que continua atraindo olhares, mas não pelos motivos que gostaria. O que é bem comum em quem tem dermatite atópica, nove entre cada dez portadores da condição se sentem inseguros ou envergonhados.2
“Não tem como olhar pra mim e não achar estranho”, resigna-se. “Quando estou em crise, fico cheio de lesão, as pessoas não querem se aproximar. Eu entendo. É muito difícil eu me relacionar, é difícil me expor. Não tem nem como esconder o que eu tenho, porque minha mão tem todas essas marcas, meu corpo. E eu não me sinto à vontade”. Outra característica entre as pessoas que têm a doença: 60% veem os seus relacionamentos comprometidos.2
Mesmo entre os familiares e amigos, o empresário lembra o quanto é difícil ouvir o tempo todo as pessoas dando conselhos sobre “não se coçar que piora”. “É uma coceira insuportável, a gente não consegue não coçar”. Para se ter uma ideia, 99% dos pacientes sofrem com coceira diariamente, sendo que dois em três têm coceira por mais de 12 horas por dia.2